quinta-feira, 16 de junho de 2011

Anestesia

muito lirismo
pouca poesia

não há o que sentir
anestesia

o ministério da saúde adverte:
a dependência de solidão causa
tristeza, dor e morte...

sábado, 11 de junho de 2011

metade

todo mundo  obcecado pelo todo
passa parte do tempo se perdendo, sem lugar
e tem no medo um dedo de certeza
de não ter beira,nem lugar

tudo é uma parte, um terço
um quê a procurar
a parte da metade sincera
do vazio que alguém quis furtar

metade sentimento,
metade a se pensar
metade o que se ama,
metade o que amar

eu  não sou cara nem coroa,
tudo é velho demais
um bom livro, uma mentira,
um truque por trás

o tanto que ficou foi verdade
a outra parte também
a mentira uma metade
eu sou quem vê além...


metade sentimento,
metade a se pensar
metade o que se ama,
metade quem quer amar

eu sou um homem qualquer,
uma sarjeta, uma mulher


eu sou um homem qualquer,
uma sarjeta, uma mulher



no final, não sou ninguém além
do que qualquer um pode dar também

sábado, 4 de junho de 2011

Janela

  -Tchau...
  -Tchau!
      Não são muitas histórias que começam assim,pelo fim...
      Mas que história? Sou eu, sentada, quatro da manhã,
falando sozinha, usando um sorriso de desespero p'ra amparar as lágrimas,um travesseiro com teu cheiro p'ra acalmar a falta...
     Você não virá,se foi...se foi mesmo!você realmente entrou no avião e não vai chegar na minha porta e dizer que foi tudo uma brincadeira.
     Não sei porque olho pela janela então, e penso,e forço.Tento te ver na sombra, no andar de longe, na possibilidade,pouco provável...e eu, matemática,saberia,mas não penso,sem você nada é exato, nem sutil, nem nada.
     Não é um conto de fadas,não vou ter um "para sempre" no final, mesmo um infeliz final, que fosse eterno. Na última e derradeira página, não terá você.
     Então minha expectativa mais otimista é pensar que também sente minha falta,
e talvez chore,como eu, sem durmir essa noite.
     Sei que estou vazia,incompleta,errante...
     Sei que deito, de conchinha, sozinha, tentando sentir seu abraço.

  -Tchau...
  -Tchau!

     É a unica coisa que vem à cabeça, aquela palavra maldita, no sentido mais literal possível, forjada, naquele dia infausto....
     E eu penso em todo o discurso que fiz dentro de mim,na retórica irrepreensível que despejei consciência adentro,nas mil possibilidades...Proposta de casamento,declaração pública,ameaça de suicídio,sequestro,chantagem,qualquer coisa menos ortodoxa até...
     Mas não foi o que eu disse...Simplesmente não foi o que eu disse!

  -Tchau...
  -Tchau!

     Não adianta, não está mais aqui...tenho certeza!E embora a vontade teimosa e inocente me diga que você desistiu na ultima hora daquela idéia idiota de ficar longe,você se foi por um desacerto seu.
     E lembro que eu te disse que seria bem vindo,que te queria longe,que não te queria mais,mesmo que fosse mendacidade óbvia.Lembro que eu te disse mil "nãos" com vontade de sim...
     Mas você não pensa nisso agora, não pode lembrar do que eu não disse,e nem sequer sabe ou mede.
     Então, mais uma vez inundada por uma esperança pueril, jogo...rogo até por um deus que eu duvido.juro com olhos apertados e dedos juntos, que se pudesse voltar naquele momento, o que eu diria, o que eu digo, repetido, abafado,pedinte até,desesperado:

  -Perdoa-me pelo teu erro e simplesmente fica. Para sempre...