quinta-feira, 18 de julho de 2013

Mãos soltas

Mãos delicadas apertam sublimemente um rosto apavorado.
Esses são dias que se seguem pós furacão.
Na memória,
 um caos desgastado, um sentimento de fuga,embaralhado.
Sempre só,
o medo me sorri, e eu hei de rir de volta.
Se não hoje,
amanhã.
Tremulamente alguém ensaia uma meia volta mas segue em frente.
Está tudo derrubado,
faz frio,
mas não há chances de errar.
Há apenas um caminho, e deve, dizem, ser o certo.
Em resposta a todo o resto há um :NÃO MAIS.
E não há mais coisa alguma.
O vigor dos braços inúteis há de aparecer(e permanecer) enquanto é preciso,
Reconstruir, Criar do novo,
Onde não há mais nada.

há de ser fácil pra mim também.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Divagações

   NÃO SOU ARTISTA/ESCRITORA/DESENHISTA/COMPOSITORA, NEM NADA DO TIPO. SOU SENTIMENTAL. Menos nobre, eu sei, mas realista.
   A verdade é que se algo saiu bonito-artístico-modernista-sessentinha, foi porque me causou dor latente ou alegria demasiadamente entusiasmada e não me coube.Não é bonito, mas é realista.

  Foi expurgado, ou se expurgou,como uma espinha que não espera ser espremida pelas minhas mãos sujas, e espirra, sem ser convidada, no coitado mais próximo, ou no meu próprio reflexo no espelho embaçado do banheiro.Não é bonito, mas é realista.

 E assim seguem as minhas fraturas expostas, meus acertos pontuais e meus equívocos literários/gráficos/musicais. Mostrando o que eu queria ou precisava que fosse visto. Maculando e sendo maculado. Não é bonito, é realista.

Não é bonito, é realista.

     Essa é a minha máxima do momento. O meu rebento atravessado que eu tento parir por quase uma vida inteira e que me rasga as vísceras.
Tenho matado meus duendes e fadas, meus cavalos alados, meus pôneis cor-de rosa.Tenho matado meu julgamento soberbo de achar que o que eu via, era visto porque eu era diferente,especial. Não é bonito, mas é realista.

  Penso que passo por uma adolescência tardia,e constato aos poucos a feiura que me cabe e cabe ao mundo.Sem contos da DISNEY, sem enredos de Blockbusters românticos. SEM ARTE.

  DÓI, e nesse ínterim, construí uma patologia, para me proteger. DURMO .
 Durmo mais que acordo. SONHO mais que VEJO.
 E se eu sei que quando acordar tudo aquilo vai embora e o mantenho, preso aos meus braços, ainda assim, é patologia, e das graves. É ninar um feto morto.

  Por vezes me senti um peixe fora d'água, mas dizem por aí que se Deus existe, não erra. E se cá estou, fui eu quem não me adaptei.
  Vai ver reneguei o papel de "ÁRVORE" na sua obra importantíssima, e tentei ser o anti-herói.
Vai ver tantos outros, pensam por aí, do alto de sua soberba, serem especiais também, e nem isso me torna única.E o sentimento que tanto me corrói é senão patético,corriqueiro. Não é bonito, mas é realista.

  Mas no final, eu pergunto, aqui pro meu conselheiro imaginário, já que esse também é um diálogo que tenho enquanto imaginação e por isso só,QUEM ME CONDENARIA?

  Que culpa tenho, se na minha cabeça tudo fica MAIS BONITO, MAIS JEITOSO, MAIS DALÍ?

Como me ergo, me dispo do meu ROMANTISMO tão nato, do meu SURREALISMO tão imaginativo,  e aceito viver nesse mar de REALISMO, CINZA COR-DE-CIMENTO?

Gustave Courbet,Pintor Realista em seu Auto-retrato


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ex-pectativas(tarja preta)

A força rebelde da aurora da juventude,
a força pulsante, da paixão pelo que acreditava,
tudo se foi.

Fala pausadamente, não chora de alegria,
não ri das tristezas.
só pondera.

Posa para fotos, pousa sob as datas
pensa sem divagar.

Criou um breu nos olhos, uma armadura dura,
fria e áspera,
 mas escorregadia.

Que a protege de esperar em esperanças.
que a destituiu das ilusões,
as boas e as nem tão boas assim.

E hoje em dia, das expectativas,
virou expetadora.

É um ser comum,perdida em um cotidiano pacato,
rodeada de pessoas que a substituiriam em menos de um passo.

E

Morre todo dia, só por que,
por ela, ninguém morreria.

terça-feira, 21 de maio de 2013

LIVRO (eu gosto é do gasto)


   Encontrou-o sob pés, ao acaso, em uma arrumação noturna no armário. Macio, jogado, suplicante.
   No mais, era uma bagunça iminente... o armário, a casa, a vida. Tudo espalhado, tudo muito, e sem nenhum cabresto de ordem.Mais de 48 livros haviam despencado daquelas prateleiras ao abrir da porta,e justo ele encostava suavemente suas histórias grafadas nas solas cautelosas de seus pés descalços.
   Olhou com um misto de curiosidade e medo.Lembrava dele, das histórias dele, das histórias com ele.

   Do dia que o lera e que por ele se apaixonara. Eram frescos em sua memória. Os personagens tão bem elaborados,mais familiares do que deveriam, mais parecidos com os que ela conhecia do que seria possível..
   Chegou a atribuir vozes a eles, e por elas se apaixonou também.
   Lembrava de seus trechos favoritos, de tudo que sua cabeça falara para si enquanto os lia, do que tinha e dos que tinha em sua vida naquele momento.
   Lembrava de te-lo lido compulsivamente até cair no sono, vezes chorosa, vezes esperançosa, tomando apenas o cuidado de guarda-lo sob o travesseiro. Para protege-lo, para te-lo perto, velando seu sono.
   Então leu um trecho. Escolhido a esmo, tal qual a página.Logo ele. Tantas vezes recitado, tantas vezes chorado,tantas vezes...como naquele dia. Aquele dia com ele.

   Ao aproxima-lo de si, examinou as páginas gastas de uso. Orelhas marcadas, manchas de café, manchas de olhos que marejaram, e cheiros. Cheiros dele, Cheiros dela.Cheiros de tudo que ele viu dela. E antes dela, e...
   Ah, os cheiros! Quão inebriantes são os cheiros da memória e da melancolia.
   Mil aromas diferentes invadiam agora a narina investigativa daquela menina.
   Eram cheiros e cheiros, aromas e aromas... do uso diário, do descuido do armazenamento, cheiros do mofo, do tempo. Cheiros do tempo passado. Cheiros de sentimento.

  Podia senti-los no colo nu tão logo pressionou aquelas páginas amareladas e melancólicas contra o peito.
  Acarinhavam-na.
  Sim, cheiros são possíveis de tocar uma tez saudosa. Cheiros tem tato!

  Cerrou os olhos, e meneou a cabeça para trás, tramando os lábios num gemido quase silente. Embriagado.
  O coração palpitava fazendo o peito mover-se como bossa. Como coração amante.
  Eram amantes.
  Aquelas histórias, aquelas lembranças, aquela cousa à que ele remetia a fez apaixonar-se perdidamente outra vez. Evoca-las assim , sem amanho, sem aviso prévio, era como um beijo.

  Um beijo roubado de quem ama fervorosamente. Furtivo,do tipo que não respeita as intensidades das coisas sãs e as atropela com eloquência.
  Mergulhada naquele passado inebriante, lembrou-se dele.
  E lembrou-se uma vez mais, antes de fechar definitivamente a contra capa e abafa-lo na prateleira.
Para sempre.



sábado, 27 de abril de 2013

talvez um fim

E fui inventando mil alter-egos,
para alimentar medos tantos,
que eu inventei.

Pra apagar de mim os medos reais,
que me paralisavam e paralisam.

E a cada licença poética,
mais mentiroso de mim mesmo fui.

Me tornei ator e não artista...

O poeta morreu,
e foi de mal de artista.

para ler ouvindo:

terça-feira, 23 de abril de 2013

A Flor

Quando em sua singeleza,
em sua estranheza,
 sua incerteza,

a flor,

quase incólume,
quase inapreciável ,
tenuíssima,

chorou.

E ninguém notou, e dela,ninguém se apercebeu,
mesmo bela, mesmo ela,
de falta de zelo,

morreu.

E era só flor,
 só amor,
em sua bela falta de importância,
era tantas,
que ninguém (se atentou)

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mas continuou bela,
e continuando ela,
ninguém se apercebeu.

do choro dela,
a flor,
bela,

de tristeza morreu.

era só flor,
e sendo flor,
tão simploria ela,
que da beleza
mesmo em morte,
viveu.


domingo, 7 de abril de 2013

medo de...

eu queria te dizer que
eu queria ter segurado sua mão,
ter ficado mais perto...
queria ter te aliviado as dores,
da vida, do mundo.

do alto da minha prepotência orgulhosa,
eu queria ter te ajudado,
ter evitado, sei lá...

e mesmo que não fosse das pessoas mais íntimas suas,
eu senti e ainda sinto a sua falta,
e que eu ainda não consigo aceitar.

eu deveria ser mais resignada,
mais crédula em Deus ou algo do tipo,
queria crer e ter certeza de que você está em um lugar melhor.

e eu podia colocar aqui uma foto sua sorrindo,
mesmo com todo aquele tratamento,
e toda a força ue você teve, eu admiro.

mas ainda é difícil, na minha cabeça infantil,
acreditar que essas coisas acontecem,
e nem a palavra eu consigo dizer...

e esse é o meu texto mais sincero e mais difícil,
de escrever, de saber, de ver que muitas pessoas o lerão e
saberão que eu não sou tão forte assim,
e que eu sofro também...

eu queria te dizer que,
tudo que eu queria era que você soubesse,
que muitas pessoas te amam de verdade,
e creem comigo que a vida é injusta,
e só tem medo de dizer....

eu queria te dizer que eu desejo,
que tenha sido ao menos descanso,
já que não foi em paz...ao menos para quem ficou...

(a minha querida Ilka Helena, eterna em lembranças, ao menos para mim)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Eu preciso dizer que...

É preciso dizer coisas em silêncio,
discursos inteiros, bem articulados, recheados de argumentos,
recheados de verdades que simplesmente não cabem ser ditas.

É preciso dizer coisas gritadas,quase vomitadas no silêncio alheio,
para que todos ouçam, mesmo os mais distantes,
e não duvidem, e talvez, gritem juntos, ou mais alto.

É preciso dizer coisas em frequência ínfima, como quem não diz nada,
para que você ouça se estiver perto, bem perto,
a ponto de estar dentro de mim.

Você ouviu?

domingo, 31 de março de 2013

Sonhos de um conto de...

Mea-culpa, meia culpa, des-culpa...

se fosse sem joguete, sem ludíbrio, sem tratantada.
se fosse preto no branco,
verdade com verdade,
amores declarados,
ciúmes vociferados,
mágoas enunciadas.

tudo passional mesmo.
como são os sentimentos,
mesmo os de desistência...

se fosse show burlesco,
poema sem rima,
texto sem diagramação.

se fosse  você  e eu,
lendo nossas cabeças,
sem censura,
sem ditadura do ego,
sem ditadura do medo.

e se fossemos sempre honestos,
mesmo consigo mesmo,
mesmo sendo paradoxo,
mesmo sendo um defeito....

e em tudo quanto fosse canto ninguém duvidasse,
ninguém mentisse,
ninguém ludibriasse,

doeria menos,
não doeria?

poeta seria atração,
ator profissão difícil,
e juiz não seria preciso,
já que de justo todo mundo teria um tantão.

mas precisa ter desfoque,
precisa ter premiação.

é preciso ser o bom,
é preciso se proteger de quem se ama,
é preciso não admitir falhas,
é preciso dizer,
que tendo dito tudo isso,
a máquina seja o computador.


cansei de coisas assim, queria algo de criança,
verdade escrita e declarada em bala frigeels,
com erro de português e sem a menor dúvida,
de quão eu sou para você.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Algum dia de tempos atrás...

goza sozinho! é assim que começo,
não pensa em mim nem um tantinho,
amor é coisa que eu nunca peço.
tira logo a mascara de mocinho.

não te cai bem nem de socapa,
deixa o tom de indireta
levanta, dá a cara a tapa!
o cinismo é irmão do poeta.

 que escreve torto e sem motivo,
 como quem não ama e fica perto.
 ou com um sentimento relativo,
de quem prefere manter-se incerto.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Quebra-cabeça

peças invertem o sentido.
paradoxo, anacrônico,sucumbido.
não é um quebra-cabeça de peças,
são peças quebradas de uma cabeça.
ou cabeças quebradas por umas peças.
peças de quebra-cabeça.
um quebra cabeça de peças.
uma cabeça quebra-cabeças.
uma cabeça de quebra-cabeças de peças...quebradas...
confuso, um nó... vários nãos...poucas mãos.
tipo isso. texto intruso, sem margem, sem paragrafo, sem edição...sem parafusos....
de palavras sobrepostas...de palavras impostas...
coisa pra quebrar a cabeça... coisa de quebra-cabeças...coisa da minha cabeça.
a minha cabeça
é sim um quebra-cabeças...
de peças soltas,
de cabeças soltas,
de peças quebradas,
de muitas peças.
que nunca encaixam por excesso de arestas!
(ufa!)


(poema torto de uma cabeça torta que se afoga e se diverte com as próprias volubilidades)


sexta-feira, 15 de março de 2013

Canta

canta o excesso do líquido,
canta a falta do tato.
canta que eu rio.
canta de canto.
de boca,
de olho,
de tanto.
que faz falta o que não se tem e nem se quer!