segunda-feira, 19 de setembro de 2011

De Papel

Cavo pedaços de dia na memória
esboço,protejo e guardo
o tanto que ficou e foi projetado
foi o seu "eu' que desenhei com carinho
pra amar um dia e fazer ninho


a sua cara amarrotada de manhã
o dia que inventa novas dores
vamos bancar animadores de solidão
e buscar algo pra espantar o fastio
e tentar a diversão como ofício

mas é tão difícil, é tão difícil
que você nem tenta além de suas convicções
e eu vou mantendo com desdém
tudo que restou de perigoso
ou seja tudo
tudo o que restou
e que foi pouco


domingo, 11 de setembro de 2011

aquele oi não era para você meu amigo!

e não, não sou escritora/criadoa de estórias...

sou só uma menina

que não sabe contar mentiras para seus amigos

mulher e homem

Eu nasci mulher para que meus exageros fossem perdoados, e minhas intemperanças, não ofensivas e biologicamente justificáveis.
E para quando tiver medo, desses meus rompantes e faltas de juízo, eu pudesse buscar teu peito e me sentir segura.

Você nasceu homem porque sente orgulho em ser tinhoso, e bate o pé em falar que estou fazendo tempestade em copo d'água.
E porque eu tenho as coxas macias e quentes, e você gosta de deitar nelas quando estamos nus pra dormir.

Eu nasci mulher e você nasceu homem,eu faço a tempestade...você me salva ou me deixa afogar?

gozo

aquele riso tardio,
aquela felicidade retardatária,
tipo gozo que vem só no final do ato...

eu passo...
quero gozar cada lambida,
cada cravada de unha...

você me chama de exigente,
eu me chamo de latente.

se quisesse calmaria eu não procurava abrigo no teu peito,
procurava perdão na igreja ou retiro em templo budista...

diálogos...

-eu era engraçado, inteligente, aplaudido,cultuado,e meio artista...
-e agora?
-agora eu sou só seu namorado.
-desculpa.
-imagina, agora eu sou mais feliz...mesmo burro, sem entender suas miudezas, e gaguejando quando falo.
-como pode?
-eu ter vivido tanto tempo sem você?não sei


*mas eu fugi mesmo assim...eu conheço esse depois...

xote

desalinho,
melhor achar o prumo.
se for pra ser sem rumo,
vem mansinho.

solidão,
não faça moradia,
se for noite vadia,
faz seguir sem a razão.

mas não me faz viver sem ele não,
não me faz viver sem ele não,
não me faz não.

por suposto

sou supostamente infeliz,
supostamente artista,
supostamente atriz,
supostamente pessimista....

ninguém me vê com o mesmo gosto
da minha verdade,ninguém petisca
eu sou é por suposto ,o oposto
e ai de quem seguir à risca

Mácula de Artista

eu sempre hesitem entrar no tablado
já fui o bêbado e a equilibrista
fui fazer fama de artista
entre o bem e o mal amado


teatro adentro conheci amor
de shakespeares e de cecilias
vi do oriente,mil maravilhas
provei veneno,traição e dor


mas foi em um sorriso ator
que fiz morada verdadeira
e fiz de minha arte, a primeira
como um verso redentor

quando ao fim do terceiro ato
era ele o herói  envenenado,
supus a morte do amado
e veio em mim o desbarato

num rompante de choro
fui eu quem chamei o pranto
mas o artista era tanto
que a morte aplaudiram em coro

foi tamanho o desalinho
que atirei-me janela ao chão
tamanha a queda que então
provei da vida descaminho

mas era cena de sofista
morte em ato consumado
e meu amor já prostrado
era mácula de artista



quinta-feira, 8 de setembro de 2011

mesa de bar, mulherão...

   Sexta feira, bar da esquina, junta todo tipo de gente, de objetivo, de moda, de prosa...
   Eu sentada, relaxada, moletom e idéias pra esquecer.
   O cara do lado conversa com o amigo:
-E aquela ellen roche hein, mulherão....
peitão, bundão...
Eu posso ouvir o comentário silencioso da mente da garçonete que serve a mesa:
-Mulherão sou eu que trabalho de segunda a segunda, arrumada, cabelo feito, unha bonita.


   Do outro lado do bar a discussão de relação esquenta entre um casal:
-Mas amor, ela foi só um caso, um casinho...é você quem me vê todos os dias, quem faz minha comida,
dona da minha casa, cuida dos meus filhos.ela era um Mulherão, não consegui resistir...
   E o justificador do injustificável nem sequer olha pra sua simplória esposa, enquanto
seca com os olhos (e com os desejos...) a mulher na mesa à esquerda.

Essa, por sua vez, atualiza a amiga animada de suas peripécias amorosas:

-Falei na cara, amiga, falei que dei pro ricardo sim, que o ricardo me comia direito,
que eu sou mulher e preciso de sexo, e sempre...E que ele devia aceitar o chifre como
aviso e como prova de amor, afinal, ainda estou com ele.
-Amiga, eu te admiro. Você é que é mulher,que admite seus desejos, vai atrás..Ah,eu com
essa coragem...

O amigo das duas, colega de empresa, em pleno happy hour, tenta cortejar uma terceira na mesa, um
esteriótipo comum, corpo escultural, burrinha burrinha...

-Mas você é uma cavala, um mulherão,cara de fatal, nunca vi uma mulher tão sedutora quanto você.

E a burrinha, ri toda prosa do pífio cortejo.

Eu, que continuo, na mesa, cerveja e cervejas, vou pensando e rindo:

-Mulherão sou eu! que tento ficar bonita, cuido de casa, trabalho e trabalho,
admito e sigo os meus desejos, não fico sem sexo, e com a cabeça cheia de idéias.

-Mulherão são anônimas (ou não),lindas, bem cuidadas,profissionais, cheias de desejos
na pele, e idéias na cabeça...e nenhuma, nenhuma mesmo, vocação pra aguentar
homem idiota do lado!